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50 anos de Bienais em SP



ARTS QA – PELA CURADORA ADRIANA REDE

1951-2021, 50 anos de Bienais em SP


Esta é a nossa 34ª. Bienal. Nossa, porque é a Bienal de São Paulo, apesar de ser do mundo! Sim, nossa, pois acontece aqui na nossa cidade e é a segunda maior Bienal de Artes do planeta, atrás somente da pioneira, a Bienal de Veneza.


Este ano, como vem se repetindo ao longo dos últimos, o título é mais que uma denominação, é o tema que norteia a escolha das obras.

Faz escuro mas eu canto. Lindo e pertinente. O verso do poema Madrugada camponesa, do amazonense Thiago de Mello, ficou famoso na voz de Nara Leão há mais de cinquenta anos, um ano após o golpe militar no Brasil.


A 34ª Bienal se organiza em torno de uma visão de mundo colonizado – e principalmente de Brasil – construído sobre relações de poder. Portanto, traz em seu cerne a ideia de resistência.

A curadoria adotou 14 premissas que norteiam a construção de relações visuais e plásticas com o tema da exposição. Chamam a estas premissas de “enunciados”, objetos que apresentam histórias marcantes e trazem reflexões. Fazem parte desse conjunto três objetos do acervo do Museu Nacional no Rio de Janeiro, que sobreviveram ao incêndio em 2018.

Este artifício dos enunciados reivindica também a necessidade da arte como encontro, em busca de transformação.


Mais de noventa artistas convidados do mundo todo tentam nos passar esse sentimento através de seus trabalhos. Quase todos estão vivos e ativos, vários estão ligados a povos indígenas por nascimento ou convívio, muitos são afrodescendentes.


São mais de mil obras espalhadas pelos quase 35.000 metros quadrados do pavilhão no Ibirapuera. Apesar de tão intrincada teia de relações, esta edição da Bienal nos passa uma sensação de leveza. Muito desta leveza se deve ao projeto arquitetônico, que produz fluidez em texturas diferentes ao longo do pavilhão. Ao final, tem-se um sentimento mais acolhedor, que se apropria do espaço grandioso. Contribui para a sensação de leveza a redução do número de artistas em comparação com edições de anos anteriores. Há bastante espaço vazio no interior do Pavilhão.


Realmente é uma Bienal pontuada por histórias de relações de poder. O trabalho do artista Arjan Martins chama a atenção pela grandiosidade, a obra Complexo Atlântico — Cordas (2021), é uma instalação composta por uma âncora com 1,3 tonelada e um cordão que corta o pavilhão, formando um triângulo, em referência ao comércio entre América, África e Europa no período colonial e que, por conseguinte, abarcava a travessia forçada de pessoas escravizadas.


Ao redor do pavilhão da Bienal, em diversos pontos do Parque Ibirapuera, estão erguidos gigantes recortados, e podemos adivinhar quem são: Marighela, Tereza de Benguela, Marielle Franco, João Candido e outras figuras emblemáticas da história do Brasil, pintadas sobre estruturas similares a de outdoors pelo artista Paulo Nazareth.


No lago do parque, duas serpentes de 24 metros de comprimento flutuam. Em posição de ataque, as cobras "estão prontas para dar um bote em Pedro Álvares Cabral", diz o artista Jaider Esbell, referindo-se à escultura de Cabral localizada na outra margem do lago. Esbell é um dos grandes nomes da arte indígena contemporânea.


Outra grande conquista desta edição da bienal é a sua extensão por instituições culturais além do parque Ibirapuera. A parceria com outros espaços possibilita a realização de exposições individuais de participantes que têm longa trajetória artística. São nomes de peso como do chileno Alfredo Jaar, em cartaz no Sesc SP, do fotógrafo Pierre Verger, no Instituto Tomie Ohtake, e de Regina Silveira, no MAC-USP.

São muitas as formas de ver e sentir esta 34ª. Bienal. E, em uma exposição desta magnitude, cada visitante encontrará a “sua” obra.

34ª Bienal Internacional de São Paulo - Faz escuro mas eu canto

Até 5 de dezembro

Pavilhão Ciccillo Matarazzo, Parque Ibirapuera

ter, qua, sex, dom e feriados: 10h - 19h (entrada até 18h30)

qui, sáb: 10h - 21h (entrada até 20h30)

fechado às segundas


Entrada gratuita


Acesso mediante apresentação de comprovante de vacinação contra Covid-19, impresso ou on-line.


Imagens: Paulo Nazareth, escultura João Cândido, da série Corte Seco - Carmela Gross, Boca do Inferno/Meteorito Santa Luzia, remanescente do incêndio no Museu Nacional do Rio de janeiro (enunciado) - Arjan Martins, Complexo Atlântico/Cordas - Daniel de Paula, Circulação - Regina Silveira, Paisagem - Jaider Esbell, Entidades.









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