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As venturas e desventuras da Semana de Arte Moderna - Parte1

POST ARTS QA

PELA CURADORA DE ARTE ADRIANA REDE

As venturas e desventuras da Semana de Arte Moderna

Repercussões 100 anos depois - Parte I

Adriana Rede - Curadora de Arte

Há um século, em fevereiro de 1922, iniciava-se a Semana de Arte Moderna, "evento" realizado por intelectuais, no Theatro Municipal de São Paulo. Um festival, que incluía literatura, poesia, música e artes plásticas. "Semana" que, na verdade ocorreu somente em três dias, 13, 15 e 17 de fevereiro.

A proposta era confrontar o tradicionalismo nas artes, combater o formalismo, a literatura parnasiana, questionar o academicismo. Além de buscar a liberdade de expressão artística e lutar pela experimentação estética. Os artistas, em sua grande maioria jovens pertencentes a elite, voltavam de Paris sob influência das vanguardas artísticas europeias (futurismo, cubismo, dadaísmo, surrealismo, expressionismo), mas no movimento modernista local pregavam valorizar nossa cultura e encontrar uma identidade verdadeiramente brasileira.

Assim como toda corrente artística que pretende fazer críticas aos movimentos anteriores, a Semana de Arte Moderna não foi bem recebida à época. Os artistas foram menosprezados pelo público conservador e a mídia chegou a retratá-los como débeis, cretinos e "futuristas endiabrados”. Não teve grande repercussão fora de São Paulo.

Hoje se sabe que o catalisador da Semana foi o grande poeta, escritor, musicista, professor, Mario de Andrade. Com o escritor e agitador cultural Oswald de Andrade, a pintora Anita Malfatti, o desenhista e pintor Di Cavalcanti, que foi inclusive o autor do catálogo e cartaz da Semana, planejaram, não por acaso, em realizá-la no mês do centenário da Declaração da Independência do Brasil, anunciando outra “independência”, libertadora para as artes.

Na comissão organizadora estavam também Graça Aranha, escritor (autor de Canaã) e diplomata brasileiro, um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras (rompeu com a ABL em 1924). Foi encarregado de proferir o discurso inicial, no primeiro dia do evento.

Menotti Del Picchia, poeta, romancista, jornalista, autor do famoso poema “Juca Mulato”, abriu a segunda noite, a mais importante e a mais tumultuada da Semana, com uma conferência em que era negada a filiação do Grupo Modernista ao Movimento Futurista do italiano Marinetti. Redator do Correio Paulistano, pôs a sua coluna à disposição dos "interesses revolucionários" de 1922.

Também faziam parte do comitê Ronald de Carvalho, poeta e ensaísta que declamou no segundo dia da Semana, além dos seus versos, o icônico poema "Os Sapos” de Manuel Bandeira, que não pode comparecer por estar adoentado à época.

E claro, temos que destacar o mecenas Paulo Prado, membro da oligarquia cafeeira paulista, grande incentivador da cultura e também poeta, juntou política e cultura, e tinha entre vários objetivos, o de tornar a São Paulo provinciana em referência cultural no Brasil.

Heitor Villa-Lobos foi protagonista do terceiro dia da Semana de 1922. Com um pé calçado num sapato e outro no chinelo (devido a um calo inflamado, o que o fez ser vaiado), o compositor mostrava à plateia a confluência entre a música erudita, tradicionalmente europeia, e a musicalidade da cultura popular brasileira.

O escultor Victor Brecheret estava vivendo em Paris, mas aderiu ao movimento e enviou dezenas de esculturas para serem expostas.

Tarsila do Amaral, considerada a grande musa do Modernismo brasileiro, não participou da Semana, estava em Paris, só soube do movimento através de cartas de Anita Malfatti e conheceu o restante do grupo somente quatro meses depois, quando chegou ao Brasil. Aderiu imediatamente aos ideais Modernistas e foi sua grande incentivadora. Casou-se com Oswald de Andrade e foi papel central nos desdobramentos do Modernismo, a Fase Pau Brasil e o Movimento Antropofágico. Mas esta já é outra história…


(Continua na próxima semana)







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