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As Venturas e Desventuras da Semana de Arte Moderna Repercussões 100 anos depois - Parte II

POST ARTS QA

PELA CURADORA DE ARTE ADRIANA REDE


As Venturas e Desventuras da Semana de Arte Moderna

Repercussões 100 anos depois - Parte II

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Desconstruindo a Semana de Arte Moderna de 1922

Muito estudada e controversa ao longo dos últimos anos, a Semana de Arte Moderna de 1922 tomou porte como o grande movimento da arte brasileira em 1972, nas comemorações dos 50 anos, em plena ditadura militar, fato muito questionado por alguns. Independente disso, foi um marco para o desenvolvimento das artes no Brasil e influenciou todos os movimentos subjacentes desde então.

Aos olhos de hoje, em seu centenário, a Semana de Arte Moderna é considerada excludente, formada por uma elite intelectual branca, majoritariamente masculina (com algumas poucas representantes femininas). Mulheres realmente foram minoria. Somente as pintoras Anita Malfatti, Zina Aita, Regina Gomide Graz, a pianista Guiomar Novaes e uma dançarina que não se ouviu mais falar.

Tem sido alvo de grande revisão crítica, por ignorar manifestações artísticas modernas anteriores ao ano de 1922 (vide exposições de Lasar Segall em 1913 e de Anita Malfatti em 1917, aquela muito criticada por Monteiro Lobato). Também por desconsiderar manifestações que poderiam ser consideradas “modernas" fora da cidade de SP que já vinha ocorrendo, e por não incluir discussões de gênero e raça. Reconhece-se o marco histórico, discutem-se as ausências.

Segundo defendem alguns historiadores e recentemente o escritor Ruy Castro, o Rio de Janeiro, por exemplo já era moderno muito antes de São Paulo. Graça Aranha e Di Cavalcanti eram cariocas. Vicente do Rego Monteiro é Pernambucano. Ismael Nery, que vai para o Rio de Janeiro, é de Belém, e por aí vai.

Lima Barreto, escritor negro, autor de uma estética muito moderna, simplesmente não foi convidado para participar da Semana. Na música, naquele mesmo ano, desembarcavam na França para apresentar seus sambas e chorinhos o maestro Pixinguinha, negro, junto à sua banda. Ele não é citado como um modernista.

A coincidência entre os eventos fez o rapper Emicida levantar a questão da ausência dos negros na discussão modernista, ao gravar o show e documentário "AmarElo" no mesmo Theatro Municipal, em 2019.

Mas colocando em perspectiva, aos olhos da época, a busca dos modernistas brasileiros, inspirada no movimento das vanguardas europeias, procurava pelo primitivo em cada cultura, o que fazia a diferença em cada país. Daí essa primeira geração de modernistas eleger os indígenas, os africanos, os homens e mulheres negros como objetos e temas de algumas de suas criações. A grande crítica hoje é que o grupo "refletia" sobre os outros, mas não "incluía" os outros.

Não há dúvidas de que o modernismo deixou um legado muito importante: a liberdade de pesquisa e experimentação em muitos segmentos das artes. Por outro lado, hoje são consideradas "vanguardas" não mais os movimentos que criam somente linguagens novas, mas os que acolhem questões como centro x periferia, ambientalismo, gênero, classe social, raça, etnia.

Cem anos depois da Semana de Arte Moderna de 2022, o extraordinário poeta Mario de Andrade, com toda a sua sensibilidade, em respeito as nações indígenas, não teria escrito ser "um tupi tangendo um alaúde". Provavelmente teria convidado os indígenas para tocar.

(Final)








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