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Manifestações artísticas são legítimas?

ARTS QA

por Adriana Rede

Curadora


Manifestações artísticas são legítimas? Depende. Destruir a arte e a história nunca!


Manifestações públicas de arte estão cada vez mais presentes, e isto inclui ações de vandalismo, que infelizmente tem se tornado cada vez mais frequentes.

Assistindo rapidamente esta cena hoje, 14/10, logo após o “protesto” na National Gallery em Londres, onde “ativistas do clima” com o lema Just Stop Oil atacam uma obra de Van Gogh, fiz para vocês esta análise (a ser questionada e discutida!), minutos após o acontecimento. Sem me aprofundar no assunto ainda, já podemos perceber que:

- está tudo muito bem orquestrado e filmado;

- são adolescentes, parecem bem novos, (pena diferenciada no Reino Unido);

- após jogarem a sopa, parecem passar cola nas mãos, e as fixam na parede, para não serem rapidamente retirados pelos seguranças, permanecendo mais tempo na ação;

- com a outra mão mostram as latas para serem filmados prontamente;

- não jogaram tinta ou ácido, e sim sopa de tomate, que não danificaria totalmente qualquer obra;

- o quadro está protegido por vidro! Já sabiam que não danificaria a pintura, (serão provavelmente limpos/restaurados somente o vidro e a moldura);

- não usaram as latas da marca de sopas Campbell, utilizadas na lendária obra do artista Andy Warhol na pop art dos anos 1960 (hoje no MOMA), cujo objetivo foi transpor um produto considerado de massa e transformá-lo, dando a ele o estatuto de obra de arte. Perspectiva crítica, inovadora e inteligente, diferente desta ação;

- acho que quem orquestrou verdadeiramente a ação, ou não conhece a história da arte, ou não quis remeter a Pop art/Andy Warhol, pois o ato subversivo poderia se tornar uma “performance” mais interessante, uma releitura, e o objetivo não era este. Provavelmente foi tentar intervir na opinião pública quanto a questão do petróleo/guerra na Ucrânia, etc.

Uma pena se usar a arte para chamar a atenção com vandalismo, se temos tantos artistas/artivistas fazendo ações maravilhosas com questões do clima, meio ambiente e paz mundial!

Somente para citar dois exemplos, um internacional e um brasileiro:

Olafur Eliasson, artista dinamarquês/islandês de importância mundial, Ao longo dos últimos 30 anos, se volta cada vez mais a causas sociais e ambientais.

O aquecimento global é um tema recorrente de seus trabalhos. Em 2015, durante a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP-21), na França, extraiu 12 pedaços de um iceberg na Groenlândia para expô-los em uma praça em Paris. Distribuídos no formato dos 12 ponteiros do relógio, os blocos de gelo derretiam dia e noite no espaço, lembrando a urgência da passagem do tempo, enquanto líderes mundiais discutiam dentro de palacetes, o futuro do meio ambiente. Obra belíssima, impactante, interativa, sem necessidade de agredir ninguém. Diz o artista: “Arte está engajada no cotidiano ao tocar as pessoas, movê-las a um novo lugar, e mudar consciências. E isto é importante para expandir nossa capacidade em entender o outro, ter empatia, e, afinal, dar o primeiro passo para transformar pensamento em ação no mundo."

Para citar um dos muitos exemplos dos artistas “ativistas” brasileiros, relembramos a visita do Quartier ao atelier do querido Eduardo Srur, que entre tantos trabalhos voltados a questões ambientais, entre outras, nos mostrou como produz a belíssima homenagem aos grandes mestres da pintura, e, ao mesmo tempo, denuncia os males causados pelo plástico ao meio ambiente, através de sua série “Naturezas Plásticas”.









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