“MEDEIA”, DE EURÍPEDES
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POST TEMÁTICO
Por CARLOS RUSSO

Leitura recomendada: MEDEIA, tragédia clássica, escrita e dirigida em sua primeira apresentação pelo POETA EURÍPEDES, no teatro contíguo à Ágora de Atenas, século V a.C..
Era o auge da carreira do poeta, num momento político delicado de degradação, corrupção e de questionamento dos valores cívicos da democracia ateniense.
Medeia é o contraponto da inocência e da dedicação ao amor. Medeia, aquela que possui poderes demoníacos e mágicos, apaixona-se por Jasão, auxilia-o no roubo e sequestra o próprio irmão, para facilitar a fuga dos gregos. Quando o pai se aproxima na perseguição, ela não tem dúvidas em sacrificar o irmão para atrasá-lo e salvar-se com o amante.
Mas a política impede que Jasão retorne à sua terra, Ilco. Por isso, busca refúgio em Corinto, onde viverá com Medeia e eles terão dois filhos. Passados dez anos, Jasão que é ambicioso, decide casar-se com a filha de Creonte, rei de Corinto, abandonando Medeia.
Medeia, em seu desespero de mulher traída e abandonada, desencadeará uma fúria irracional mas calculista, dentro de incontida selvageria. Afinal, quem sacrificara a fortuna do pai e a vida de um irmão pela paixão por um homem, com o mesmo denodo buscará na fúria a destruição de tudo o que for mais caro a Jasão, ou seja, sua noiva e os próprios filhos.
Em Eurípedes as mulheres chegam aos extremos das virtudes e desumanização. Os homens, por seu turno, perdem qualquer aura de heróis. Jasão é pusilânime, suas propaladas virtudes são coberturas para o mais vil oportunismo político, que não poupam nem a companheira e nem os filhos.
O ultraje da traição e do abandono é mais forte que qualquer outro sentimento em Medeia. Seu desvario faz com que reze aos deuses pela morte do marido e da noiva. “Aquele a quem consagrei os meus preciosos bens tornou-se o pior dos homens… A desdita imprevista que me feriu, perdeu a minha alma e, privada da volúpia da vida, desejo morrer, amigas. Entre todos os que respiram, somos nós, as mulheres as mais miseráveis. Antes de tudo precisamos comprar um marido e aceitar um dono para nosso corpo… e o divórcio nunca é honroso para as mulheres e não nos cabe repudiar o mau marido”.
No entanto, a vingança perpetrada em momento algum conduz a uma nova ordem, mas sim, estabelece o caos, representado pelo próprio escárnio de quem, num dragão, força obscura aparentada com o monstro Tifão, partirá para um exílio seguro, obtido à custa de um juramento ingênuo feito por Egeu.
E Aristófanes, poeta contemporâneo, ainda dizia que Eurípedes não amava as mulheres! O grito de independência e libertação feminina faz-se ouvir, dois mil e seiscentos anos atrás com a força de hoje em dia! Mas uma das essências das personagens trágicas é a sua ambiguidade; então, prossegue Medeia: “Pois se em tudo o mais a mulher é tímida e covarde para o combate, quando é ultrajada no leito nupcial não há alma mais cruel que a sua”.
O pequeno libreto da tragédia deve ser visitado por nós pelo menos três vezes durante a vida, pois sua leitura e interpretação retratam conflitos do ser humano de ontem, de hoje e de sempre!
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