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QUATRO POESIAS PORTUGUESAS


ARTS QA LITERATURA

POR VITOR HUGO

QUATRO POESIAS PORTUGUESAS

FERNANDO PESSOA E FLORBELA SPANCA


“O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.


E os que lêem o que escreve,

Na dor lida sentem bem,

Não as duas que ele teve,

Mas só a que eles não têm.


E assim nas calhas da roda

Gira, a entreter a razão,

Esse comboio de corda

Que se chama o coração.”

(Fernando Pessoa)


“Deixa dizer-te os lindos versos raros

Que a minha boca tem para te dizer!

São talhados em mármore de Paros

Cinzelados por mim para te oferecer


Têm dolência de veludos caros,

São como sedas pálidas a arder...

Deixa dizer-te os lindos versos raros

Que foram feitos pra te endoidecer!


Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda.

Que a boca da mulher é sempre linda

Se dentro guarda um verso que não diz


Amo-te tanto! E nunca te beijei...

E nesse beijo, Amor, que eu não dei

Guardo os versos mais lindos que te fiz!”

(Florbela Espanca)


“Eu amo tudo o que foi

Tudo o que já não é

A dor que já me não dói

A antiga e errônea fé

O ontem que a dor deixou,

O que deixou alegria

Só porque foi, e voou

E hoje é já outro dia”.

(Fernando Pessoa)


“Até agora eu não me conhecia,

julgava que era Eu e eu não era

Aquela que em meus versos descrevera

Tão clara como a fonte e como o dia.


Mas que eu não era Eu não o sabia

mesmo que o soubesse, o não dissera...

Olhos fitos em rútila quimera

Andava atrás de mim... e não me via!


Andava a procurar-me - pobre louca! -

E achei o meu olhar no teu olhar,

E a minha boca sobre a tua boca!


E esta ânsia de viver, que nada acalma,

E a chama da tua alma a esbrasear

As apagadas cinzas da minha alma!”

(Florbela Espanca)





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