Salvador Dalí
ARTS QA – PELA CURADORA ADRIANA REDE
SÉRIE O ARTISTA EM ATOS
BLOCO 01-04
Salvador Dalí é o nosso segundo artista retratado na série “20 Atos”. De Caravaggio, nascido no século 16, damos um salto, para explorarmos as histórias saborosas de um dos artistas mais excêntricos e importantes das Vanguardas Artísticas do século XX. Dalí, inconfundível por seus bigodes alongados e pontiagudos, foi uma das figuras mais proeminentes, junto com André Breton, do Surrealismo, corrente das artes plásticas que soma a liberdade de pensamento, o onírico, a valorização do inconsciente, a fantasia e o impulso.
1 - Nascido em Figueres na Espanha em 1904, Salvador Felipe Jacinto Dalí Y Domènech teve uma vida agitada e com detalhes tão insanos quanto sua própria personalidade. Foi considerado pelos pais a reencarnação do irmão falecido. A família sofreu com a morte de um dos filhos, com menos de dois anos de idade. Exatamente nove meses depois, nascia o Dalí que conhecemos. Seus pais, deram-lhe o mesmo nome e passaram a considerá-lo a reencarnação do filho falecido.
2 - Precoce. Dalí pintou uma de suas primeiras obras conhecidas, Paisagem de Figueres, em 1910, com apenas 6 anos. O trabalho, óleo sobre cartão postal, está hoje no Museu Salvador Dalí, na Flórida. A primeira exposição de seus quadros em público ocorreu em 1919, quando tinha dezesseis anos. Com o apoio da família, que era próspera e culta, e o mimava bastante, realizou a exposição no Teatro Municipal de Figueres (hoje Teatro-Museu Gala Salvador Dalí).
3 - Formação. Diante da proeza do rapaz, seu pai o mandou para Madrid, para que se formasse como pintor de qualidade. Estudou na Academia Real de Belas Artes. Conheceu Luiz Bunuel e Federico Garcia Lorca na residência dos estudantes. Dizem que houve um triângulo amoroso entre eles ou pelo menos entre Dalí e Lorca, com quem trocava correspondências “apimentadas”.
Foi expulso duas vezes e não se formou, pois julgava ser melhor que os professores.
4 - Década de Ouro. Os anos 1930 foram o apogeu do desenvolvimento das Vanguardas Europeias, e no caso de Dalí, foi o ápice em qualidade e reconhecimento de seu trabalho. Envolto em um círculo de amigos artistas, foi nesse período que Salvador teve suas principais exposições em galerias, além de vendas de quadros por valores estratosféricos. Foi nesse momento em que criou o seu método crítico-paranoico, em que mesclava realidade e sonho na produção de imagens.
5 - Obra “A Persistência da Memória". A pintura, de 1931, é a mais famosa de sua carreira. Alguns julgam que foi criada durante um sonho do artista. Quando questionado sobre seu significado, Dalí afirmou que sua inspiração foi um queijo Camembert derretendo ao sol.
SALVADOR DALÍ
A PERSISTÊNCIA DA MEMÓRIA (SALVADOR DALÍ, 1931)
BUÑUEL, FREDERICO GARCIA LORCA E DALÍ
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6 - Gala, a musa. Em 1929, ocorreu algo que mudaria a vida de Dalí para sempre: recebeu um casal de amigos em sua casa em Cadaqués, o famoso poeta francês Paul Éluard e Helena Ivanovna Diakonova, uma imigrante russa. O inesperado é que nessa estadia, Helena, conhecida pelo apelido Gala, e Salvador se apaixonaram e, desde aquele momento, não mais se separaram.
7 - O casamento. Os dois se casaram em 1934, vivendo juntos mais de 50 anos, até a morte da mulher em 1987. Gala foi a mais importante musa de Dalí, e parceira de suas aventuras artísticas, além de trabalhar com a curadoria de seu acervo.
8 - Dali fascista? Em geral, os grupos surrealistas estavam ligados à luta da esquerda, muitos deles flertando com o comunismo, como André Breton. No início de sua carreira, Dalí gostava dessas ideais, de maneira romantizada, mas com o tempo, foi se tornando mais reacionário, chegando a ponto de já ter defendido a monarquia e apoiado o ditador Franco. Morou na Itália fascista por vontade própria. Além disso, tinha uma bizarra fissura por Hitler. Uma obra po-lêmica do tema é "Hitler Masturbating" (em tradução livre, "Hitler se masturbando"), feita em 1973.
9 - Expulsão. Dalí foi expulso do grupo formado pelos Surrealistas da Europa, em 1934, e considerado desertor do movimento. Além das ligações com o fascismo, ele também era aberto à lógica de mercado, vendendo várias artes para empresas americanas criarem logotipos. Dalí foi então apelidado por Breton de Avida Dollars (um anagrama de seu nome com tom pejorativo), segundo Salvador, por inveja.
10 - Fashion Designer. Dalí amava moda. Ele trabalhou em colaboração com a designer italiana Elsa Schiaparelli, que criou projetos baseados em suas obras de arte. Em particular, seu Aphrodisiac Lobster Telephone foi uma inspiração, e eles trabalharam em um vestido de lagosta para Wallis Simpson, Duquesa de Windsor, na década de 1930. Em 1950, colaborou com o amigo próximo Christian Dior. Ele também criou um chapéu em forma de sapato e de-senhou e produziu várias capas de revistas, inclusive para a Vogue.
Na próxima semana mais facetas do artista!
GALA E DALÍ, 1954
LOBSTER TELEPHONE, 1936
CHAPÉU-SAPATO, 1937
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Salvador Dalí em 20 Atos
11 - O polivalente. Dalí era também escritor, escultor, designer, roteirista de cinema. Em 1929 dirigiu um curta-metragem com seu amigo Luís Buñuel. Agindo em muitas frentes da arte, sua carreira múltipla foi incentivada em 1940, quando, por ocasião da invasão nazista na França, ele se mudou com a esposa para os Estados Unidos. Lá, foi designer de joias e desenhou figurinos para peças de teatro.
12 - Estados Unidos. Lá publicou uma autobiografia, ilustrou revistas e livros, e participou do roteiro de filmes de Hitchcock e da Disney! Fez uma parceria com Walt Disney, em 1945, para trabalhar em um filme de animação chamado Destino. O artista produziu 22 pinturas a óleo e inúmeros desenhos para a criação do projeto. No entanto, apenas oito meses após o início, o filme foi arquivado por razões financeiras. Em 1999, a Disney decidiu reiniciar a produção. Os animadores do Walt Disney Studios Paris traduziram os storyboards originais, analisaram as perspectivas do artista e criaram um curta de 6 minutos, lançado em 2003.
13 - Livro de Receitas. Dalí escreveu, na década de 1970, um livro de receitas chamado Les Diners de Gala (Jantares de Gala, numa tradução livre), em que, com a esposa, elaborou uma série de receitas ridiculamente extravagantes, no nível de suas obras. No livro, há fotos da montagem dos pratos, que são feitos de maneira estilizada, teatral, e quase impossível de serem reproduzidas.
14 - Animais de estimação. Além de excêntrico em sua obra, provou ser extravagante na vida cotidiana. Um exemplo famoso é o fato que o artista tinha alguns animais silvestres em casa. E, normalmente, eram animais de locais distantes e pouco habituados aos lugares onde iriam conviver, como dois bichos brasileiros: uma jaguatirica e um tamanduá-bandeira.
15 - A casa excêntrica. Outra prova da excentricidade de Dalí era a casa que construiu na Catalunha, próxima à vila Port Ligat. Lá, apaixonado pela paisagem, construiu um de seus maiores imóveis. Adentrando a mansão, é possível observar um grande ovo, uma escultura peculiar de um homem muito grande caído no chão, em meio ao seu jardim, patos, pássaros, águias e corujas, cabras e até mesmo um leão, além de vasos de flores em moldes de xícaras de chá.
Na semana que vem finalizaremos as incríveis aventuras de Dali!
CARTAZ UM CÃO ANDALUZ, de LUIZ BUÑUEL, 1929
SALVADOR DALÍ E SUA JAGUATIRICA DE ESTIMAÇÃO, BABOU, ANOS 1960
CASA DE DALÍ EM PORT LIGAT
ARTS QA – PELA CURADORA ADRIANA REDE
SÉRIE O ARTISTA EM ATOS: SALVADOR DALÍ
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Salvador Dalí em 20 Atos
16 - Dalí pop. Instantaneamente reconhecível pelo seu bigode característico, Dalí inspirou um fantoche bigodudo do programa Vila Sésamo, conhecido como Salvador Dada. Os Muppets também trabalharam em várias paródias de Dalí ao longo dos anos, incluindo um especial de 2015 chamado The Cookie Thief, no qual alguns dos Muppets veem uma pintura chamada "The Persistence of Cookies no Museum of Modern Cookie.
17 - Freud. Dalí chegou a ilustrar um livro de Freud (Moisés e o Monoteísmo), num momento em que cada vez mais se conectava com seu lado religioso. Quando jovem, foi obcecado por Sigmund Freud, começou a ler seus livros na escola de arte em Madri. As ideias sobre sonhos e o subconsciente tiveram um impacto profundo em seu trabalho.
18 - Eterno inovador. Dalí continuou desenvolvendo e aprendendo novas técnicas até o fim de sua vida, interessando-se pelos hologramas. Quis conhecer o cantor Alice Cooper, a quem julgava que os shows fossem como “se suas pinturas ganhassem vida”. Dalí não apenas criou o primeiro retrato cilíndrico de cromo-holograma do cérebro do cantor Alice Cooper, mas também apresentou ao novo amigo uma escultura intitulada "The Alice Brain". A escultura de cerâmica de um cérebro tinha uma bomba de chocolate escorrendo e formigas que soletravam as palavras “Alice” e “Dalí”.
19 - As moradias de Dalí e Gala. Além da casa na praia em Port Lligat, já citada, Dalí trabalhou anos em outras duas construções emblemáticas. O Castelo Gala Dalí de Púbol, cuja estrutura medieval é documentada desde o século XI, é adquirido por ele em 1969 e reformado com um único pensamento: ser um castelo para sua dama, onde ela reinaria como soberana absoluta. Tanto que eles mantinham um acordo, quando Gala se refugiasse sozinha no Castelo de Púbol, Dalí só poderia visitá-la mediante convite por escrito.
Já o Museu Teatro Dalí em Figueres, foi projetado pelo próprio artista no lugar do antigo teatro de sua cidade natal. Inaugurado em 1974, é a maior obra surrealista de Dalí e imperdível. Disponível visita virtual em
20 - Bigodes eternos. Em 1954, Dalí publicou um livro com o fotógrafo Philippe Halsman, inteiramente dedicado ao seu bigode, apresentando 28 imagens dos mesmos. Passados 28 anos após sua morte, em 2017, o pintor foi exumado para a realização de um exame de paternidade e surpreendeu os especialistas, que encontraram seus bigodes intactos e no mesmo formato, pontiagudos e impecavelmente armados!
CASTELO GALA DALÍ DE PUBOL
MUSEU TEATRO DALÍ EM FIGUERAS
OS BIGODES DE DALÍ
RETRATO DE FREUD POR SALVADOR DALÍ
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